Paróquias movimentadas!

» David de Sousa on 22:12

Igreja Paroquial de São Jorge de Arroios, em Lisboa. Eucarístia presidida pelo seu Pároco, o Padre Paulo Araújo, e a acolitar o Fernando Santos, seminarista do Patriarcado de Lisboa. Ambos fazem parte da Comunidade de Emanuel.

No outro dia, ouvi o Professor Marcelo Rebelo de Sousa falar numa conferência sobre a Igreja em Portugal nos dias de hoje. Durante a conferência ele referiu uma realidade que cada vez está mais presente na Igreja. Falava das comunidades "móveis" ou "flutuantes". Aqueles que não fazem vida comunitária nas suas Paróquias de residência, mas naquelas que lhes transmitem aquilo que procuram ou que por algum motivo sentem uma ligação. Esta ligação passa por um lado por propostas que determinadas Paróquias nos apresentam de novo, ou simplesmente porque gostamos mais daquele sacerdote ou daquele coro que canta na missa "x".
Este "fenómeno" é cada vez mais encarado com normalidade pela maioria das pessoas, ainda que no seio da comunidade possa haver pouca aceitação de início, mas temos que avaliar que talvez aqueles que já fazem parte da comunidade muitas das vezes também eles não residem na Paróquia. É algo normal. O sacerdote é também um elemento chave na construção de uma Paróquia. Não só em termos espirituais mas também em termos do número de fiés. Claro que a quantidade de pessoas não significa qualidade, mas quanto maior for o leque de dons mais facilmente cresceremos enquanto comunidade crente. Não só a Paróquia se torna mais viva, como também as celebrações litúrgicas ficarão mais ricas e belas, tudo para louvor de Deus.
Assim, muitos encontram laços na proximidade com o outro. Se vemos em determinado movimento ou projecto, leigo ou sacerdote algo que nos faz aproximar de Deus, não devemos recear integrar-nos nessa comunidade. Não existem geografias no Reino de Deus. Somos uma só Igreja, um só povo! É essa a fé que professamos!
Por outro lado, vivemos um tempo em que vemos novamente Congregações e Movimentos estarem à frente de Paróquias. A nomeação de um Paróco que faça parte de determinada Congregação ou Movimento é o primeiro passo. Depois, regra geral, toda a espiritualidade e dinamização quer de grupos já existentes, quer de grupos novos, segue a linha de caminhada dessa Congregação ou Movimento.
No caso das Congregações, julgo que surge de forma muito natural. Muitas das vezes tem a ver fundamentalmente com a proximidade de Seminários e tornasse uma solução pastoral lógica. Já em relação a Movimentos, sendo na maior parte deles formados maioritariamente por leigos, julgo ser mais questionável. Ou o Movimento já se encontra enraizado na Paróquia e de forma natural surge como principal dinâmica pastoral, ou se são efeitos de conveniências exteriores ao seio da comunidade, ainda que implementado esse projecto consolidadamente, pode ser fracturante e mesmo dispersante.
Alguns Grupos, apesar de quase independentes, já caíram na banalidade das nossas Paróquias. Grupos como a Legião de Maria, as Equipas de Nossa Senhora ou, um exemplo mais frequente, o Corpo Nacional de Escutas. Mesmo sendo Grupos com directerizes muito próprias, as Paróquias já estão habituadas a esses Grupos. Muitos deles até assumem um forte papel pedagógico, ficando quase ao nível da Catequese.
Outra coisa são os Movimentos que assumem ainda hoje, muitas vezes, o título de «seitas» entre os crentes. O Padre Rosino Gibellini, disse à Rádio Vaticano recentemente, que "os novos Movimentos surgem das novas realidades cristãs mas continuam a ser considerados «seitas»", e continua dizendo, "muitos nem sequer se identificam como Movimento e surgiram depois do Concílio Vaticano II, e hoje em dia já reúnem milhões de católicos em todo o mundo". De entre eles destaca "os mais conhecidos: Focolares, Caminho Neocatecumenal, Comunhão e Libertação, Comunidade de Emmanuel, Regnum Christi, Comunidade de Santo Egídio, Renovamento Carismático, Movimento de Vida Cristã, entre outros". Termina dizendo que " estes Movimentos trazem uma revitalização do tecido comunitário cristão".
Se trazem "revitalização", a verdade é que também fermentam as comunidades "móveis". A falta de identificação surge no topo dos motivos. Depois vêm os que não estão "formatados" com aquela espiritualidade e por fim aqueles "cépticos" que julgam estar perante «seitas» que praticam desvios espirituais e assumem rituais muito próprios mas que estão longe do canonicamente instituído.
Pessoalmente, julgo que soluções pastorais de entregar o comando das Paróquias a Congregações, muitas vezes até face à "falta" de vocações, são aceitáveis. Mas entregar e conduzir comunidades Paroquiais Diocesanas pelo mesmo caminho de grupos mais restritos e com um carisma próprio pode torna-se muito perigoso e devastador para a identidade da comunidade.
Assim sendo, aquilo que vos peço é que rezem pelas Vocações aos nossos Seminários Diocesanos. Para que Deus acolha aqueles que O procuram de coração aberto ao próximo e ao serviço da Sua Igreja. Cabe-nos a todos nós, com a nossa acção e oração, "revitalizar" as nossas Paróquias. Não nos centremos tanto na solução de problemas mas acima de tudo de como evitar esses mesmos problemas de futuro, não ficando apenas e só pelo imediato.
Será que os "Movimentos" são mesmo a salvação das nossas Paróquias?

5 Comentários:

Comment by Unknown on 24 julho, 2009 19:37

Caro Sobrinho,
Não conhecia o blog e creio ser a primeira vez estar a ler um post da sua autoria. Antes de abordar a questão que mais me atraiu, a questão dos movimentos, gostava de comentar a questão das comunidades móveis ou flutuantes.
O conceito de paróquia como comunidade territorial deixou de fazer sentido a partir do momento em que viajar 10, 20 ou 30 kilometros se faz no mesmo espaço de tempo que há um século atrás se faziam 3 ou 4 quilometros. Toda esta questão da pastoral paroquial deveria ser revista e ser posta na ordem do dia para ser discutida com uma certa urgência pois existem casos de paróquias abandonadas em deterimento de outras simplesmente porque uma tem um coro mais a gosto ou a outro "um padre que faz umas homilias tão bonitas".
Há também que rever a questão da pastoral dos jovens, das famílias e dos profissionais visto que cada vez mais os grupos sociais são um factor de congregação. Que propostas concretas existem para famílias jovens ao nível das paróquias?
Que formação existe nas paróquias para jovens que queiram continuar algo depois dos típicos 10 anos de catequese?
Quem se ocupa da moral e da ética de cada grupo profissional senão os movimentos?
Tudo isto são questões muito importantes que deveriam ser estudades com bastante atenção pois são estes factores que podem criar soluções para a aparente crise da Igreja.
Voltando então à questão das paróquias estarem a ser entregues a congregações e a movimentos. Apesar de concordar que é uma situação normal que as ordens e as congregações tomem conta de paróquias em especial num contexto de falta de párocos, não partilho dos seus receios quanto aos movimentos.
Esta situação pode ser nova porque a realidade dos movimentos surgiu sobretudo após o Concílio Vaticano II mas posso lhe garantir que é uma experiência muito bem sucedida onde esta realidade já está bem difundida, nomeadamente em Itália, França e no Brasil. Para ser mais fácil passo a citar um parágrafo e a fazer o comentário por baixo.
"No caso das Congregações, julgo que surge de forma muito natural. Muitas das vezes tem a ver fundamentalmente com a proximidade de Seminários e tornasse uma solução pastoral lógica. Já em relação a Movimentos, sendo na maior parte deles formados maioritariamente por leigos, julgo ser mais questionável."
Penso que ainda não teve acesso a toda a informação em relação aos movimentos. Muitos dos movimentos como os Focolares, o Caminho Neocatecumenal, a Comunidade Emanuel e muitos outros possuem ou seminários próprios, ou enviam os padres dos seus institutos religiosos ou fraternidades sacerdotais para terem formação pastoral, filosófica e teológica em seminários de ordens ou diocesanos. É o carisma de cada movimento, tal como acontece nas ordens e congregações, que marca a espiritualidade da vida paroquial e que dinamiza a sua acção.
Quando uma paróquia é entregue a algum movimento esta não fica entregue a um grupo de fieís. Isto, das paróquias serem entregues a fieís ocorre normalmente num contexto extra-movimentos promovendo a inter-relação dos vários grupos e movimentos já existentes na paróquia. (cont.)

 
Comment by Unknown on 24 julho, 2009 19:38

(continuação)"Ou o Movimento já se encontra enraizado na Paróquia e de forma natural surge como principal dinâmica pastoral, ou se são efeitos de conveniências exteriores ao seio da comunidade, ainda que implementado esse projecto consolidadamente, pode ser fracturante e mesmo dispersante."
Alguns Grupos, apesar de quase independentes, já caíram na banalidade das nossas Paróquias. Grupos como a Legião de Maria, as Equipas de Nossa Senhora ou, um exemplo mais frequente, o Corpo Nacional de Escutas. Mesmo sendo Grupos com directerizes muito próprias, as Paróquias já estão habituadas a esses Grupos. Muitos deles até assumem um forte papel pedagógico, ficando quase ao nível da Catequese."
Acho que há aqui alguma confusão.
Não se pode e nem ninguém iria entregar uma paróquia ao Corpo Nacional de Escutas nem tão pouco as Equipas de Nossa Senhora por diversas razões. Primeiro porque estes movimentos são movimentos sem ramos ou institutos sacerdotais. Este factor constitui por si só um factor de exclusão num processo de selecção de possíveis movimentos para tomarem conta de uma paróquia. Segundo porque estes movimentos tem uma funcionalidade muito específica que não conseguem abranger toda a dimensão comunitária de uma paróquia. O CNE é um movimento de formação integral de jovens, as ENS visam o acompanhamento de casais católicos e por aí adiante. Por fim é importante lembrar que alguns movimentos presentes nas paróquias são "filhos" de alguma ordem como por exemplo os Jovens Sem Fronteiras ou a Juventude Vicentina ou são apenas uma face da vida de um movimento/comunidade como é o caso das comunidades do Caminho NeoCatecumenal ou o Movimento Juvenil pela Unidade dos Focolares.
Quanto à questão dos movimentos poderem ser fracturantes ou motivo de dispersão, isto já aconteceria mesmo com iniciativas individualizadas do prior da paróquia. Com certeza que nem todos querem ser acólitos ou cantar no coro, ou serem leitores ou ministros da comunhão. Uns provavelmente gostariam mais de contribuir para a preparação da catequese enquanto outros valorizam mais as acções de rua. O importante é pôr o movimento ou o que seja ao serviço do outro e com isso tentar levar Jesus mais perto das pessoas através de coisas que as pessoas se sentem mais inclinadas.
"Outra coisa são os Movimentos que assumem ainda hoje, muitas vezes, o título de «seitas» entre os crentes."
A culpa desta demonização dos movimentos é repartida entre os padres diocesanos, os próprios movimentos e os outros.
Por um lado temos os párocos que tem um pouco medo de perder "clientela" e poder de decisão dentro da sua paróquia. São vários os casos de chefes de agrupamentos que em diferendos abertos com os assistentes, grupos de jovens que roubam estes durante os momentos comunitários por excelência como a Páscoa ou o Natal ou outros que pura e simplesmente excluem os assistentes religiosos das suas actividades regualres. Se alguns padres aceitam isto outros não só condenam como também demonificam e apelidam de seitas.
Por outro lado os movimentos encerram-se muitas vezes dentro de si mesmo dando uma ideia de secretismo e utilizando muitas vezes uma linguagem que podemos dizer de código ("Boa caça!") que facilmente excluem outros. Ou seja, como as seitas! Os movimentos criam também mutas vezes círculos muito unidos permitindo pouco ou nada a entrada de novos elementos. Lembro-me dos meus tempos de adolescência ter amigos dos escuteiros, amigos das equipas e amigos de Taizé. Por vezes, muito raramente as mesmas pessoas coincidiam mas muitas outras vezes arrisco a dizer a maioria dos casos, não só se excluiam como competiam entre si.
Por fim temos os outros, aqueles que não fazem parte de nenhum movimento. Estes sentem-se excluídos e por isso tentam desvalorizar os movimentos criticando e extrapolando o já mencionado isolamento auto imposto pelos movimentos. (cont.)

 
Comment by Unknown on 24 julho, 2009 19:41

(continuação)"Se trazem "revitalização", a verdade é que também fermentam as comunidades "móveis". A falta de identificação surge no topo dos motivos. Depois vêm os que não estão "formatados" com aquela espiritualidade e por fim aqueles "cépticos" que julgam estar perante «seitas» que praticam desvios espirituais e assumem rituais muito próprios mas que estão longe do canonicamente instituído."
Eu aqui fico um pouco preocupado que alguém fique preocupado com alguns desvios espirituais ou litúrgicos que algun movimentos possam trazer até porque neste momento os grandes promotores do renovamento espiritual e litúrgico são precisamente destes novos movimentos/comunidades (Focolares, Caminho Neocatecumenal, Comunhão e Libertação, Comunidade de Emmanuel, Regnum Christi, Comunidade de Santo Egídio, Renovamento Carismático, Movimento de Vida Cristã, entre outros).
Na realidade portuguesa a vida espiritual ao nível paroquial está na grande maioria dos casos resumida ao pacote sacramental (Batismos, Casamentos e Funerais) e para os mais empenhados o adiconal pacote dominical (Domingo e dias de festas). Não podemos dizer que a direcção espiritual seja o grande forte das nossas paróquias. Não me lembro de nenhuma paróquia seja conhecida pela sua actividade espiritual junto dos fieis. Há algum padre diocesano que ultimamente tenha escrito alguma coisa sobre espiritualidade?
Em relação à liturgia, são nas paróquias que acontecem os maiores abusos não só por falta preparação e de acompanhamento mas sobretudo por falta de tempo. Há domingos em que os padres celebram 4 ou mais vezes. Se na primeira missa a Homilia ainda sai com alguma convicção, na segunda já flha entusiasmo e nem se fala quando se chega à última. Para não falarmos da pouca preparação dos coros (quando os há)cantando músicas muito pouco litúrgicas ou músicas do tempo da outra senhora que só as velhotas sabem ainda.
Porque acha o Sobrinho que há tantos jovens portugueses a procurar Taizé? Renovação Liúrgica e espiritual.

"Pessoalmente, julgo que soluções pastorais de entregar o comando das Paróquias a Congregações, muitas vezes até face à "falta" de vocações, são aceitáveis. Mas entregar e conduzir comunidades Paroquiais Diocesanas pelo mesmo caminho de grupos mais restritos e com um carisma próprio pode torna-se muito perigoso e devastador para a identidade da comunidade."
Infelizmente estou em desacordo. Concordo que as congregações são uma solução mas a meu ver devem ser sempre uma solução temporária ou com um objectivo específico como as missões juntos de uma comunidade emigrantes, ou numa paróquia num bairro social ou pura e simplesmente numa situação de ausência de padres. Estou em crer que o futuro não passará pelos seminários diocesanos onde ainda se cultiva e incentiva uma cultura de classes, dos eleitos, do nós (padres) e o eles (leigos).
Para além disto a ausência de comunidades que suportam os padres (ser celibitário não é fácil e não ter uma comunidade com quem compartir as dificuldades do dia-a-dia ainda torna a tarefa mais difícil) e de uma espiritualidade organizada faz com que as vocações procuram sítios mais "abrigados". Um padre de uma congregação ou de uma ordem não vai ficar uma vida inteira a trabalhar numa paróquia. Em muitos destes novos movimentos as responsabilidades de dirigir, programar e dinamizar a paróquia é não só compartida com outros padres mas sobretudo com leigos empenhados. (cont.)

 
Comment by Unknown on 24 julho, 2009 19:42

(continuação)"Assim sendo, aquilo que vos peço é que rezem pelas Vocações aos nossos Seminários Diocesanos. Para que Deus acolha aqueles que O procuram de coração aberto ao próximo e ao serviço da Sua Igreja. Cabe-nos a todos nós, com a nossa acção e oração, "revitalizar" as nossas Paróquias. Não nos centremos tanto na solução de problemas mas acima de tudo de como evitar esses mesmos problemas de futuro, não ficando apenas e só pelo imediato."

Pode contar que vou rezar pelas vocações mas não vejo necessidade de rezar por vocações para os seminários diocesanos. Nós leigos precisamos de padres, sejam eles diocesanos, de ordens ou de movimentos e que sobretudo sejam humanos e não máquinas ao serviço da maquinaria burocrática paroquial.

Peço desculpa pelo comentário tão longo mas nem me dei conta até chegar a altura do passar para aqui.

Em comunhão

 
Comment by Rui on 24 julho, 2009 22:17

O meu é mais curto. Bem me parecia que conhecia aquela fotografia.
Estás autorizado a divulgá-la. Não vou cobrar direitos de autor...
Rui