O Sobrinho

Existem dias em que o nosso pensamento voa mais alto que nós próprios.Ganha dimensões de sonho e cria a realidade que vive em ti.Passei hoje por duas experiências que já passei muitas vezes mas só hoje as contemplei.Juro que não estou a gozar com quem passa por elas todos os dias,mas também digo que o culpado não sou eu mas a rotina em que todos de alguma forma vamos sobrevivendo.Já não paramos para contemplar.Já não nos fascinamos com a beleza que a vida nos oferece a cada momento e em cada lugar em que vamos passando!
O primeiro momento foi ter andado de metro.Não com a correria ou pressa de sempre mas com o olhar quase de análise de comportamentos e almas.Uma grande cidade como Lisboa tem no metro um ponto de encontro momentâneo.Um cruzar de vidas sem querer e quase sempre sem sentido.A cada estação uma vida,em cada rosto uma história.Gente de todas as nacionalidades e credos em comunhão ecuménica por momentos,talvez o tempo de uma qualquer estação.
Depois o confrontar-me com o comboio.Admito que já não andava à pelo menos dois meses mas nunca tinha ido tão cedo.Cais do Sodré,9 horas da manhã!Perante uma bilheteira tento fazer mais longo o tempo para poder alcançar aquele comboio rumo a Cascais.Embarco sem medo e sento-me do lado da janela.Só até Algés sentaram-se 3 pessoas ao meu lado.Parecia que a vida estava a querer mostrar-me o quanto é rápida a passagem das pessoas pela nossa vida.Sem identidade,elas iam falando ao telemóvel talvez com o destino que as trouxe até mim.Talvez com o vento que as iria levar.
Olhei então o mar!Revolvia de alegria de me ver…talvez.Seriam lágrimas de saudade aquelas que o fizeram estar assim?Ou seria a vontade de também entrar neste espaço de encontros?Uma coisa pausava a viagem:a calma!Ao contrário do metro não se ouvia viva voz.Apenas o mar teimava em me chamar.Até os carris faziam música nesta húmida manhã de Outono.Em cada estação via passar um modo de vida ou talvez uma qualquer escassez de tempo que as fizeram estar ali.Começava-me agora a interrogar se aquela senhora a correr desesperada para apanhar a tempo o autocarro fora da estação, não se teria atrasado porque o destino quis que eu visse parte da sua vida.Quase que se tornava inevitável cruzar uma vista de olhos pelo relógio que hoje parecia apenas não correr para mim.
Embaraçante foi também a mudança de tempo.Vi o tempo passar de chuvoso a aberto com alguma neblina matinal.O comboio ia abrindo o caminho rumo ao meu destino até ouvir aquela frase:próxima estação-Estoril!Agora que já tivera o meu encontro com alguns dos que formam o rosto de Deus apenas me restava ver esse rosto feito Pão e Vinho no cimo de um altar.Tocam os sinos para a Eucaristia.Mais uma vez Deus quis parar o tempo para não me atrasar no nosso encontro,desta vez onde nunca nos tínhamos encontrado.Apenas um rosto amigo e um “Imagine-se” como resposta a uma provocação,trava o meu caminho rumo a Cristo.Paro então e contemplo a amizade a crescer.Peço mais uma vez a Ele para parar o tempo.Cumprimento outro amigo e sigo rumo a Ele a passo apressado!Chego mesmo a tempo do Aleluia.Mais uma vez Ele queria falar-me mas desta vez de viva voz!Ele sabe que o fui vendo desde manha e aquele momento foi apenas um concretizar dos nossos sonhos!
Hoje sem saber vi Cristo passar por mim de várias formas:numa mãe com o filho ao colo,num executivo,numa estudante,num mendigo ou num simples trabalhador!Hoje Cristo passou pela minha vida,mas nada faria sentido se eu não tivesse deixado a minha vida passar por Cristo…