O Sobrinho

A vocação do amor de Deus é derramada sobre o coração de todo o homem e mulher que não tem medo de arriscar mais um pouco, que arrisca entranhar-se nos sentidos que dão sentido à vida. Mas não só o “saudável” é portador deste bem, deste dom vivificante da total unidade com Deus. Também a ovelha perdida é chamada de “filha de Deus”. Também pelo seu pecado foi traçado o sinal da cruz, ainda cravado no cimo daquele monte. Somos parte da cruz, somos via da paixão de Cristo no mundo, mas temos o dever de ser profetas da gloriosa manhã em que a terra tocou o céu para sempre. A manhã em que Cristo voltou a estender os braços mas para abraçar a humanidade com a sua ressurreição.

Não podemos esquecer as palavras dos profetas, tal como a voz do Percursor João Baptista, que nos indicam a via da luz que perpetua o amor de Deus por nós. Somos realmente “filhos da luz” e não “filhos das trevas”. Recordo agora, o evangelho que diz: “Vós sois sal da terra. Vós sois a luz do mundo”. Verdadeiramente, temos que ter a consciência deste natural apostolado que é entregue em nossas mãos. Nessa passagem somos alertados pelo evangelista Mateus de que “não podemos esconder uma cidade situada sobre um monte; ou acender uma lâmpada para colocar debaixo do alqueire”. Existe bem clara a necessidade de uma natural proclamação da Palavra que passa por todos nós. O desafio que nos é lançado tornasse permanente desde o primeiro momento em que somos tocados pelo fogo do Espírito. Cada vez mais, a ligação presente também na verticalidade daquela cruz e que une o divino ao mundano, deve ser encarada como uma missão fundamental nesta Igreja que pulsa de dor tal como o Coração de Cristo, dorido com tanto afastamento da humanidade do projecto traçado por Deus. O Oleiro olha hoje em dia de novo esta terra e espera que tu também nela estejas activo, revolucionário e radical num amor que ultrapassa a compreensão de muitos. Nesta necessidade de fazer dos outros objectos da nossa preocupação.

Tu, morada divina de Deus, tabernáculo escolhido, tens que te revestir na humildade daquele coração que transformou o mundo. Tens que ser fiel depositário da Palavra, dos sentimentos, do amor que consome e te faz o escolhido para servires. Faz de ti trabalhador desta enorme ceara. Faz de ti motivo de conversão entre os homens. Já São Paulo nos lembra que “não somos nós que vivemos, que é Cristo que vive em nós”. A concretização desta caminhada nunca estará definitivamente alcançada enquanto houver alguém que ainda não conheça a surpreendente alegria de viver em comunhão com Deus.

Neste domingo em que celebramos a solenidade do nascimento de São João Baptista, cada um de nós terá que ser capaz de ver em si esta missão profética a que Deus nos chama. Pelo Baptismo da penitência e pela Confirmação no Espírito Santo, todos nós somos mais uma vez desafiados a sair das nossas terras, deixar pai e mãe, e segui-l’O! Segui-l’O na totalidade do nosso ser, ainda que o mundo não entenda, ainda que os caminhos sejam trilhados no meio da dúvida. Evangelizar o mundo, fará salgar esta vida feita de homens mornos e conformados, mostrando que tu és o escolhido. Tal como Zacarias, peço que cada um de nós consiga ver na sua vontade a vontade de Deus e tal como Samuel, do qual ouvimos uma leitura do seu livro a semana passada, sejamos capazes de como ele dizer: “Fala Senhor, que o Teu servo escuta”.