O Sobrinho

Sentado nesta cadeira que a vida nos coloca, somos “obrigados” a parar e ver quem somos realmente neste mundo e o que o mundo espera realmente de nós. Não sei se a voz que me chama é realmente a que me conhece desde o ventre de minha mãe. Não sei se a via que anunciamos tem lugar para o meu nome. Todos nós, mais cedo ou mais tarde, neste ou naquele momento, sentimo-nos perdidos e sem rumo definido. Algo que só uma verdadeira paixão provoca. É estranha esta sensação de enamoramento que nos liga a algo que não vemos mas sentimos, algo que se “encarna” em forma de Amor em nossos corações inquietos.

Somos realmente loucos, como nos diz São Paulo! Somos estas testemunhas e ao mesmo tempo protagonistas em tempo real do que é segui-l’O, do que é amá-l’O! Mas como traduzir em palavras o que sente o coração? Como transmitir este fogo que consome e queima de paixão? Como sarar esta ferida que arde em nosso coração? Como trazer a razão onde imperam os sentidos? Somos loucos!! Teremos que ser loucos, mas é nessa loucura divina que conseguiremos ver o rosto de Cristo. Será nessa loucura que veremos a marca de uma paixão à qual estamos ligados e somos portadores no dia-a-dia. Será nessa loucura que a nossa radicalidade fará a diferença. Não podemos deixar que sentimentos menores estraguem ou queiram rotular aquilo que transportamos por herança: um madeiro! Nesta loucura, que muitos não entendem, é esse o nosso caminho, exemplo e guia…um madeiro! Um madeiro ainda talhado com as tuas dúvidas, mas com certezas de sonhos, projectos, missões, desafios, ousadias, testemunhos, realizações e sobretudo de um ideal que nos arrasta como o vento e rompe horizontes para um amanhã a que estamos vocacionados…

A nossa vocação original, como Igreja peregrina de Deus, é o “hoje” como construção imediata do “amanhã” de que somos “donos”. A vocação do crente é, não só a de profeta, como também de realizador desta vocação natural a que é chamado. Cada vez mais, o sentido da fé aponta para esta entrega permanente de cada um a este projecto de santificação da Igreja. Teremos que ser nesta mistura de loucura e paixão, sacramentos vivos e credíveis de Cristo no mundo e para o mundo. O “caminho profético” está enraizado no serviço sim, mas também naquilo que o mundo nos apresenta. Precisamos de profetas vocacionados para os desafios que este século nos trás e não profetas esquecidos, apagados ou mornos. O mundo precisa cada vez mais de ver em seu redor, e nos locais mais mundanamente conhecidos, sinais destes novos tempos que teimosamente não deixaremos jamais de anunciar. Profetas transfigurados, enamorados, radicais…profetas que ousem não ter medo das vozes do mundo, mas sim, que façam chegar a Sua voz a todo o mundo!

Perante este desafio, continuo a minha caminhada para a santificação da Igreja de que faço parte. Luto contra “pseudo-beatices” a que alguns se vão rotinando e procuro escangalhar com as minhas dúvidas, caminhos, que por vezes vejo serem trilhados, de afastamento de Deus. Defendo esta paixão que atinge os meus sentidos. Vivo sentimentos que testemunho. Escrevo realmente aquilo que apenas o meu coração conheceu e partilho contigo que agora lês este texto. Sou louco!! Sou louco porque Ele vive em mim, mas serás louco se achares que isto não é paixão…