» David de Sousa on 02:55



O mistério eucarístico toma contornos de um amor que exige um acolhimento verdadeiro, intenso e total. É uma doação permanentemente intemporal de algo que foi deixado em memorial de uma paixão consumada no cimo de um madeiro. Esta doação tem duas partes que se completam em Pão e Vinho. Não se trata de uma divisão mas sinal de unidade para uma comunidade que aspira santidade nos dias de hoje. Que pretende mostrar por sinal de real testemunho, uma via diferente àquela que banalmente encontramos em nosso redor. Vem mostrar que a vida não tem que ser este vazio permanente e constante mas que se pode tornar no preencher de desejos, sonhos e ideais.

Nos dias que atravessamos, a eucaristia tem vindo a tomar um papel secundário na vida do cristão. Tem vindo a ser arrastada para segundo plano em favor de um trabalho evangélico consistente e realizador de projectos de vida. Este trabalho tem vindo a ganhar força mas tem vindo a afastar a Igreja, não do amanhã mas já a do hoje e agora, do espaço de encontro com Deus. Tem sido feito um caminho que em certo ponto se confunde, em termos de objectivos e de missões concretas. A Igreja vê-se perante a missão de transmitir de novo valores, não ultrapassados, mas de importância extrema para o discernimento do que é hoje a vida de um cristão.

A forma visível de Deus presente no tabernáculo ou mesmo em “exposição”, valerá pouco se não existir o valor eucarístico presente no olhar do crente. Tem que haver um deslumbramento do primeiro amor por Aquele que se torna visível ao mundo. Que mostra que não existem barreiras temporais e que realmente foi por nossa causa que se entregou num abraço que vive até hoje. É difícil separar um momento de oração com um momento de enriquecimento espiritual. Por mais rica que a oração ou a fé consigam ir, as nossas limitações humanas e a nossa condição pecadora, fará sempre que fiquemos a perder na nossa exclusão voluntária do Cristo Eucarístico. Não devem os nossos caminhos se autonomizarem por meios de isolamento de factores divinos. Parcelar sacramentos que têm sobretudo bases firmes em conceitos reais de comunhão. Todo aquele que tente fazer uma busca de Deus através da sua experiência sairá derrotado se não fixar seu rumo na beleza da eucaristia.

Quando dizemos que o nosso limite é a cruz, não só devemos associar a ela uma entrega radical nas nossas vidas, mas também ver que ela pode ter sido o primeiro altar do mundo. Que foi feita ali a oblação prometida. Que foi realizado no Corpo e Sangue de Cristo uma promessa que deu testemunho de um amor. Que mostrou que a vida é a forma de completarmos em nós este amor. Que a vida é um peregrinar constante e absoluto rumo ao essencial das nossas existências. Que as nossas raízes terão sempre que ter a forma daquela cruz.

Por isso, cada um é convidado de novo a participar neste momento de interiorização da sua fé. É convidado a com Cristo renascer a cada celebração. É convidado constante à comunhão vivificante do Corpo de Deus! A comunhão enquanto sacramento, tornasse em tempos de penitência, um “motor” para o encontro com Deus. É um momento chave desta caminhada que nos conduzirá ao início de tudo. Teremos sempre que nos ligar fortemente à procura diária, e ainda que meramente rotineira, da celebração da eucaristia. Teremos que, ainda que não nos faça sentido, sentir diariamente algo que nos completa e ao mesmo tempo tira parte de nós. Tira parte das nossas dúvidas. Tira parte das nossas incertezas. Tira parte das nossas angústias. Teremos que buscá-la mesmo que não faça sentido, mesmo que o mundo nos chame loucos. Cristo desafia-nos a sermos loucos por um amor! Loucos por conseguir esta aliança inquebrável. Loucos por nos entregarmos de corpo e alma a uma missão: a Santidade! Somos os santos dos novos tempos inspirados por um mistério inultrapassável. Somos esta geração dos radicais por amor. Estes mártires de um testemunho, num mundo tantas vezes contrário aos ideais de Deus. Um mundo com uma ferida que só aquela cruz pode sarar.

Este desafio de procurar a santidade na eucaristia, é um caminho longo e difícil. Hoje em dia, a nossa atenção é várias vezes desviada para o acessório. Encontramos refúgios para adaptar a eucaristia às novas “modas” sociais, quando nós é que nos temos que adaptar à eucaristia. Tantas vezes nos desviamos daquilo que nos foi deixado como memorial de uma paixão! A lei, tal como diz a Palavra, é intemporal e nem uma vírgula será alterada até ao fim dos tempos. Deste modo, qualquer personalização da celebração, será um atentado à dignidade da mesma. Com isto, não está aqui expresso a mobilização ao extremismo como forma de impor ideias, mas sim ao diálogo e convergência daquilo que terá que ser a sobriedade da eucaristia.

Vários pontos podem ser focados para análise. Alguns deles têm servido de tema de conversa em vários meios mas nenhum deles deve ser encarado como forma de reprimir ou delimitar modos de vivência eucarística. Todos eles têm o seu valor e contexto, e assim enquadrados, levam a uma total compreensão daquilo que se julga ser objectivo de todos. Que ninguém saía em defesa da sua vida como participante litúrgico activo sem que respeite aquele que vive o mesmo mistério de forma diferente mas igualmente apaixonada. Não teremos que ser “inquisidores” de ninguém pois a forma que Deus usa para a Sua revelação plena, apesar de igual, pode ser vista e vivida de várias formas. Não podemos igualmente, fazer prevalecer ou envaidecermo-nos com a nossa partilha sobre aquele altar a cada dia ou Domingo, pois esta apenas será desvalorizada pela forma soberba de quem a ostenta, qual manifestação.

A eucaristia nos dias de hoje, atravessa uma discussão que a nada leva! Preocupemo-nos sim, em fazer dela motivo de alegria e exaltação. Fazer dela uma fonte de água viva para o crente que busca este encontro com Deus. Crente que vê cumprir a prova da sua fé diante de seus olhos. Qual discípulo de Emaús, reconhece o seu Senhor no partir do pão. Reconhece que foram aquelas mãos que foram pregadas no cimo do monte por todos nós. Procuremos fazer da eucaristia, não um conjunto de ritualismos, mas sim, viver cada momento como sinais da presença de Deus. Concentremo-nos na Palavra! Tiremos dela frutos para a nossa vida! Tenhamos respeito e louvor pelo Cristo que se faz Pão e Vinho em cima daquele altar. Vejamos em cada sacerdote este rosto de Cristo. Vejamos nele o próprio Cristo que estende as mãos e consagra aqueles dons para a nossa salvação.

Caros amigos, o olhar que a Igreja nos lança, não é nada de inovador. É algo que vários antepassados nossos escreveram em papiro e que chegou aos nossos dias. Temos que nos ver como Igreja una de Deus e não olharmos para a nossa realidade mais próxima. Integremos cada mensagem do Santo Padre como a indicação de um caminho e não como a obrigatoriedade de o seguir. São feitas algumas ressalvas e contextualizações que merecem ser lidas e interpretadas antes de qualquer conclusão que queiramos tirar delas.

A eucaristia é e será sempre o pilar mais seguro da nossa fé! Participamos activamente na realização deste Dom entregue por nós…

5 Comentários:

Comment by a ervilha on 20 março, 2007 13:30

Grande texto... bem tens razão, a eucaristia é sempre um maior mistério de amor... é de facto o que nos dá força e nos renova diariamente...(para quem vai..lol)actualmente sim, tem sido algo secundário por opção pessoal, porque como tu dizes não faz sentido, e não quero ir por ir... para marcar o ponto...para cumprir normas ou preceitos, não quero que se transforme numa prática de "rituais" desprovidos de amor... creio que devemos estar em comunhão plena e se não o tivermos não faz sentido.(mesmo que digas por não fazer sentido é que devemos procurar ainda mais... e por custar mais deveremos ser persistentes nas "coisas" de Deus, mas se não sou fiel nas pequenas, como poderei ser nas grandes...) Logo, por opção não vou...

Também já me apontaram o dedo por ser aquela maluca que vai todos os dias a eucaristia , sim, em tempos também fiz parte daquele grupo de loucos de amor,da radicalidade do amor exigente de Cristo mas agora não, são opções... e nada mais.
Apesar de saber perfeitamente que é o melhor momento de encontro e de comunhão com Ele, não consigo... é algo que me transcende, se sou radical numas coisas também sou noutras. Não quero ser fotocópia de ninguém... tu entendes.

O encontro deverá ser sempre um deslumbramento como na primeira vez... pois o coração d'Ele palpita muito antes de chegarmos.
Mas também entendo que outra forma de comunhão é através da oração, e qual melhor forma se Ele está junto a nós através da exposição, o convite que nos é feito é constante, no entanto é importante não cair em erro de se tornar em apenas uma rotina. Há que haver de igual forma um deslumbramento quando estás de joelhos...

Fico muito feliz, por ver a garra, aos poucos vais percorrendo o caminho para a santidade, para a radicalidade do amor... um dia se Ele assim o entender tanbém serás um dos trabalhadores, e poderás viver em pleno o mistério da eucaristia no seu todo, poderás repartir entre todos a melhor prova de Amor.

Bem haja...

Beijos . ervilha laranja...

 
Comment by ' Claudjinha on 20 março, 2007 18:01

Grande testamento... =P

Grande Fé que tu consegues manter...isso é mesmo de louvar,até mesmo pelas pessoas que acreditam menos.

Beijinhos

 
Comment by ' Claudjinha on 20 março, 2007 18:02

P.S. - essa do "ultitled" eh minha!! Achavas q n reparava....LOL eheh

 
Comment by brisa on 20 março, 2007 19:01

Como gostei de ler este texto... fez-me "encher" a candeia....
Sem eucaristia para mim não faz sentido esta entrega, ela terá que estar sempre presente para eu conseguir fazer esta aliança com Deus...
Continua com os textos bonitos...
Bjs.

 
Comment by Elsa Sequeira on 21 março, 2007 07:20

Que assim seja!


beijinhos!
:)