O Sobrinho

Termina em glória o ciclo do Ano Litúrgico. Mas uma glória que desconcerta e desaponta, talvez, a nossa mentalidade e a nossa ideia de poder, de êxito, de exaltação! Isto porque o cenário da glorificação de Jesus Cristo é o Calvário! Aí, nesse monte do abandono que gera a unidade, nesse monte que exalta a fragilidade própria de cada homem.

Com efeito, até ao fim, a «surpresa» de um Deus que Se faz Homem, que Se ajoelha diante dos homens, que dá a vida por todos os homens; guarda para a Cruz a proclamação da Sua realeza, que sempre havia recusado em momentos de triunfo…

A hora do Calvário é a festa da Sua coroação como Rei. Foi proclamado em dor, ungido em Sangue, aclamado e reconhecido entre malfeitores. Mas, no cimo daquela Cruz, abrem-se uns braços de amor eterno, de presença constante no meio dos homens, de salvação gratuita entregue a todos os corações de boa vontade. Na Cruz, um trono de serviço, de disponibilidade, de doação, de perdão total, sem limites. Na verdade, pelo amor à Cruz, conseguiu-nos a certeza da pertença a esse Reino onde Ele é Rei e Senhor se, sempre com amor, aceitarmos a própria «lógica» ilógica da Cruz!

O Reino de Cristo é HOJE e é já! Reino que não é deste mundo, mas que cresce, devagar, silencioso, no coração dos que se entregam apaixonadamente à aventura mais bela da existência humana: amar. Amar até ao dom de si mesmo!

Na Cruz, a certeza de um Rei que olha cada coração disposto à verdade, à humildade, ao arrependimento, à conversão; na Cruz eis um Homem de Deus, Rei da História de Amor que se constrói em cada dia deste nosso tempo.

Na solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, fazemos festa pois que Deus é nosso Rei e nosso Senhor. Rei condenado, humilhado, cuspido, crucificado e morto! Mas Rei vivo que desafia à vida nova que jorra d’Aquele Coração aberto; que nos atrai insistentemente a fim de sermos mensageiros, artífices, profetas e protagonistas da Vida de Deus que Se revela na singeleza de uma humanidade que Ele abraça, ama e salva!

O Seu Reino não é deste mundo! Nem o nosso! Porque sabemos e acreditamos que outra pátria nos espera. Bem mais fecunda, mais feliz, mais verdadeira, mais divina…