O Sobrinho

E quem nos garante que cada um de nós não esteja «dentro» daquele homem chamado Bartimeu? Quem nos assegura que esta não é uma «estória» narrada onde nós somos, de facto, os protagonistas?
Creio que importa aqui entender esta «cegueira» mais que a «simples» impossibilidade física de ver as coisas ou as pessoas! Penso que podemos interpretar esta cegueira como a incapacidade real de ver a vida com os olhos de Deus! E esta, sim, é uma cegueira que muitos de nós ainda comportamos!
O homem do Evangelho de Domingo passado tinha, no entanto, a consciência dos seus limites, da sua fragilidade, da sua impotência! Reconheceu diante de Jesus de Nazaré que necessitava «ver» de outra maneira, com outros olhos, com mais profundidade, com um renovado sentido…
“Que eu veja, Mestre!”
“Vai, que a tua fé te salvou. E imediatamente ele recuperou a vista e começou a seguir Jesus…”.
Na verdade, encontramos na narração do Evangelho de Domingo a condição para o autêntico seguimento de Jesus. Apenas aquele que se predispõe a olhar o mundo e os outros, com os olhos de Cristo pode e consegue seguir esse Mestre que fascina os corações. Apenas quem se decide a reconhecer a sua «miopia» no que respeita aos seus projectos meramente humanos é capaz de se maravilhar com a palavra que sai da boca de Deus. Apenas quem se consciencializar de que tantas vezes anda cego para o essencial – ainda que de olhos abertos – poderá tornar-se discípulo de Jesus.
O desafio permanece actual. “Que queres que te faça?”! Deus predispõe-se a curar-nos mediante o reconhecimento da nossa ferida. Mas importará sempre, sempre, a vontade sincera de pedir a libertação das cegueiras que nos oprimem e nos impedem de ver a beleza de cada pessoa humana – mesmo que seja tão diferente de cada um de nós. Seguir Jesus nas estradas da vida não é senão essa alegria interior de perceber em cada homem um irmão nosso, filho do mesmo Deus… irmão d’Aquele a Quem chamamos de Senhor: Jesus Cristo. Então, decide-te: “Ele chama por ti”! A uma vida, a um olhar… outro!!!