» David de Sousa on 01:07

De volta ao mundo urbano, reparo que a distância é inimiga do silêncio. Torna-se difícil calar a voz perante uma fronteira criada pelo Homem entre a sua existência e aquilo que o mantêm preso a este universo. É basicamente impossível aguentar a dor colada na garganta apenas porque tudo o que parecia perto ficou longe. Cria-se uma notória e compreensível necessidade de unir o longe ao perto, o que parece agora incerto aquilo que outrora já foi dado como adquirido. Somos animais sedentos de cumplicidades e de afinidades com a sociedade que nos envolve. Somos desesperadamente elos entre os nossos sonhos e aquilo que vivemos na realidade concreta de cada dia.

A distância pode também criar em nós a ilusão de que esse mundo que agora deixamos para trás é perfeito apenas porque sentimos falta de um abraço amigo ou de uma palavra encorajadora. Mas esse mundo perfeito, ou sonho de um cenário ideal, não passa de saudade! Esta é na verdade a grande definição que encontro para saudade. Aquilo que perante a distância crio como forma de me manter ligado ao que teimo em não esquecer. A saudade não passa pois da ausência de uma presença real e física seja ela de uma pessoa, de uma coisa, de uma situação…seja lá o que quisermos imaginar.

Neste mês em que estive afastado, vivi a saudade como “ausência de algo" e não “perca de algo” como alguns teimam em afirmar. Mesmo quem já fez a sua passagem continua vivo, e assim acredito, na saudade que sentimos, pois se esta for ausência é porque existe a possibilidade de ela poder estar presente. E isso deve confortar-nos o espírito.

Já sentia saudades de partilhar esta vida contigo. Tal como disse antes de ir de férias tive que virar a minha vida de pernas para o ar. Tive que mudar de vida e partir à descoberta daquilo que já fazia falta para o meu equilíbrio. Não vou deixar morrer este espaço pois tantas vezes é o meu escape para o que vai cá dentro. Sinto-me entre amigos quando escrevo, por isso, vou seguir caminho junto a vós.

As proximidades do silêncio! Este é o título deste texto e a minha primeira meditação que vos deixo! Temos tantas vezes a tendência de achar que o silêncio está no isolamento. Desafio cada um a descobrir a proximidade com Deus junto dos outros, em caminhada constante e construtiva. Descobrir o silêncio que cada um guarda no seu coração. Descobrir que as pistas que nos conduzem a Deus estão tantas vezes caladas pelo medo ou pela dúvida.

Neste dia, véspera da festa de São Francisco de Assis peço que cada um prepare a sua alma com os olhos voltados para a humildade do seu exemplo e para a sua entrega radical por amor. E talvez então descobrir que é no silêncio que tudo se completa em nós…

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