O Sobrinho

Hoje apenas quis escrever algumas linhas antes do meu próximo texto dominical. Neste momento o vento parece ser meu confidente e nada mais lhe peço do que guardar o meu lamento. Ficar depositário deste tesouro que guardo em meu peito e que se chama Paixão. Paixão por um ideal! Entrega total, entrega não só física como espiritual. De nada valerá o teu jejum agradável aos olhos do mundo, se o teu coração não estiver apontado para um mistério que toma a forma de Pão e Vinho. Que se transforma diante de ti para te mostrar que é possível a conversão. Esta conversão de almas, de sonhos, de caminhos. Este “varrer” de medos e barreiras que apenas nos tornam mais distante de um Amor que se faz próximo a cada momento…

Tenho peregrinado pelos caminhos deste mundo buscando um rosto amigo. Tenho a felicidade de ir encontrando vários rostos leais a um rumo traçado no cimo de um monte. Um rumo que aponta o futuro como caminho! Mas nem tudo parece fazer sentido…

Participo em missas de “corpo presente”. Não na presença de Cristo Eucaristia, mas sim em rostos de profundo pesar. Rostos que encaram a solene “via de amor” como um tributo a mortos e não um hino à vida. Vejo isso em cada jovem, adulto ou idoso…Todos estão presos à teia dos ritualismos deste mundo. Já não nos maravilhamos em ver que a presença de Cristo não é um “baixar de cabeça”, uma “vénia” ao Rei que tomou apenas a Cruz como Seu trono, mas sim um encarar de frente um mistério imortalizado por todos nós. “Olha para Aquele que trespassaram!” apela-nos o Papa nesta Quaresma. Eu ainda vou mais longe e peço-te que olhes Cristo na Eucaristia. Não baixes o olhar! Não fujas d’Aquele que te diz, ainda hoje, que ninguém te Ama como Ele! Acredita! Olha! Sente! Vive…

Recordo-me de uma história que muitos de nós já ouviram. A história do homem que não sabia rezar e que todos os dias se sentava em frente ao sacrário. Um dia, intrigado, o seu pároco perguntou-lhe porque ficava tanto tempo sentado em frente ao sacrário sem dizer uma única palavra. O homem apenas lhe respondeu: “Eu olho para Ele e Ele olha para mim!”…

Neste dia peço que cada um reflicta sobre o modo como vive a Eucaristia. Peço também que busquem na simplicidade de um olhar, o jejum de palavras que nos falava o evangelho esta semana. Que vejamos que num simples gesto Deus nos conduz neste deserto da nossa existência. Que consigamos tornar cada missa um memorial desta Paixão que, ainda hoje, transforma este mundo…